Acredito que um dos problemas atuais do design é ele ser produzido e vendido como status. Acho que isso já vem acontecendo há algum tempo, principalmente dentro dessa cultura consumista desenfreada do agora. Vivemos numa sociedade extremamente corrupta, individualista, preconceituosa e que está pouco se importando com o mundo. Vivemos numa sociedade de consumo banal e sem conceito, onde o meu é melhor que o seu e se eu tenho, não quero que você tenha. O cenário vem mudando com a disseminação da cultura colaborativa, sustentabilidade, do it yourself, dentre outras iniciativas bacanas, mas o que predomina, na minha visão e infelizmente, ainda é o que descrevi – e é a isso que vou me ater aqui.
Antes do design predominar no espaço ele é totalmente influenciado pela cultura atual da sociedade. Fica difícil, hoje em dia, rotular qual estilo é o quê. Vejo que está na moda o "industrial design" e o minimalismo, mas o que, de fato, esses dois estilos são para nossa cultura? Não sou historiador, muito menos um especialista em ambos os assuntos, mas sei que esses dois estilos não se encaixam de jeito nenhum nesse conceito de sociedade descrito.
Hoje a moda "industrial design" é um mix do que dizem "vintage" com "hashtags", ou seja, é só colocar um tijolinho aparente que já entra para a categoria. Vejo isso como um grande desrespeito ao estilo, que outrora foi um movimento cultural devido a uma série de problemas políticos e econômicos e que deu início a um pensamento muito importante na cultura de consumo da sociedade – falaremos sobre isso aqui no blog em um outro momento.
Industrial design de boutique?
E por que falei sobre isso? Pois vejo que cada vez mais que esse industrial design está sendo refinado de forma afrescalhada, "bonitinha", "garimpada", onde os cantos não são mais cantos, onde a textura é fake, onde tudo tem que ser lisinho, sem marcas, onde a história é criada em uma loja renomada que vende ovos de ouro, onde tudo é polido e envernizado e, principalmente, onde não incomoda! Ou seja, onde está o industrial?
Já tive que ouvir "espaço industrial estilosinho" e isso é um soco no rim! Mostra o que os estilos vêm sofrendo dentro do design e da arquitetura. Pessoas que não querem saber sobre como é feito, apenas sobre quando e onde está feito. Tudo precisa ser perfeito! Tudo precisa ser #estilosinho, #bacaninha, #bonitinho, #lifestyle.
E a iluminação nisso tudo?
O mesmo cenário vem sendo observado na iluminação. O mercado atual não está nem aí para esse conceito de fato, ele apenas tateia as bordas para manter o consumidor na linha.
A indústria nacional, no reflexo da economia, vai se equilibrando entre sobreviver (produzindo itens que se façam rentáveis, mas não necessariamente bons) e acompanhar a "tendência" global da modernização. Mas em quê isso reflete no conceito industrial?
A meu ver, esse reflexo é a escassez de produtos que realmente fundamentam o conceito do industrial design. Acabam tornando-se peças não rentáveis, pois não são de escala de produção, peças pesadas, brutas, e que às vezes nem podem ser mais produzidas como eram antes - o que nos leva a outro paradoxo: luminárias importadas, luminárias "Made in China" e releituras mal feitas.
Lá fora, a indústria é levada muito mais a sério, assim como os meios de produção, o investimento e a preocupação com o design (não é à toa que as tendências sempre vêm de lá). Portanto, é mais fácil difundir um estilo, um conceito e consequentemente ser mais presente e aceito no lugar. Em contrapartida, as luminárias importadas têm um valor exorbitante aqui em nosso território, pois além de serem bem produzidas, fiéis a cada estilo, têm toda a questão "burocrático-econômica".
As peças importadas europeias, por exemplo, são extremamente caras para nosso mercado (isso também dá muito pano pra manga, mas vai além da discussão aqui proposta). Para suprir essa lacuna, a China, principalmente e de forma bem agressiva, atendeu a essa demanda, produzindo luminárias similares de forma mais simples e acessível. Mas nem sempre isso é bom, pois nessa adaptação de fabricação alguns elementos passam a ser deturpados, desviando o conceito mais uma vez.
E aí vem a releitura nacional. Como nosso mercado ainda é muito fechado para o pensamento industrial design (e também por ser mais barato trazer peças da China), alguns fabricantes acabam fazendo releituras de peças "industriais", mas na verdade acabam criando um outro estilo que não tem nada de industrial, exceto por ser feito numa indústria (risos). É o exemplo das luminárias de arame. Na verdade, o arame tem uma longa história, mas o ponto aqui são os formatos adaptados para ele. Luminárias de arame que imitam a luminária de mecânico original, luminárias de arame em forma de diamante e aí, para piorar, com a moda do acabamento em cobre... Produzem dessa maneira, a fim de dizer que é industrial, mas que na verdade, é só para compor a única parede de tijolinho da casa e dizer que é um "industrial estilosinho".
Nas imagens acima, da esquerda para direita: luminária de mecânico tradicional; a luminária de mecânico em uso; e duas releituras do sistema de arame.
Resumindo: o maior problema é que sempre tentamos adaptar um estilo sem pensar, pois queremos a coisa pronta e fácil de usar. Alem disso, geralmente, basta um item inspirado nesse conceito para as pessoas acharem que o ambiente todo está no estilo, ou melhor, no #lifestyle industrial. Estamos nos tornando acomodados, pessoas #bonitinhas e #jeitosinhas!
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