Um dos conceitos básicos do ser humano é a autonomia. A relação comparativa mais próxima é: nascemos dependentes dos nossos genitores e aos poucos vamos criando a autonomia de agirmos por nossa conta, como falar, comer, andar e enfim viver sem depender do básico. O design esteve e estará sempre lado a lado com esse conceito. Desde a pedra, passando pela roda até o raio laser. O design permitiu que pudéssemos pouco a pouco conquistar essa autonomia.
Mas o que essa autonomia fez com o design?
Ao longo da história, o design (antes mesmo de se tornar um produto) passou por um pensamento, por uma necessidade e, através dele, foram sendo atendidas e ao mesmo tempo criadas diversas demandas do ser humano (estamos nos atentando em falar sobre o design criado pelo homem, pois se formos mais a fundo em seu significado, veremos que na verdade o design surgiu lá trás, beem lá trás). Conforme essas necessidades passavam a ser atendidas, passamos a pensar de forma mais macro, como por exemplo, em como o meu design poderia atender ou influenciar as grandes demandas, afinal o mundo foi crescendo e como todo ser humano, precisamos das condições básicas de nosso tempo. Não vamos entrar aqui em méritos políticos e econômicos, mas no mérito de como o design foi transformando as pessoas. Caberá a você questionar: para o lado ruim ou para o lado “menos ruim”. Por sermos seres racionais (ou quase!), somos também insaciáveis: sempre que conquistamos ou resolvemos um problema, parece que temos a necessidade de criar outro por nossa conta, para manter nossa mente ativa e assim criar um ciclo que chamamos de vida. Claro que não foi sempre assim, até mesmo porque "no início só havia escuridão". Mas hoje podemos considerar, exceto pela medicina, que temos tudo o que precisamos para nossas necessidades - óbvio, indiscutivelmente e claramente mal distribuídas pela sociedade. E mesmo assim ainda buscamos criar coisas "novas” para dar aquela massageada no ego humano. E é aí que pergunto: o que essa autonomia fez com o design? Por um longo período buscamos construir coisas para que pudéssemos desconstruir nossos medos: escuro, frio, fome, segurança e morte. Mas chegou um certo ponto em que não precisávamos ir mais além e passamos a construir coisas para desconstruir a imagem do que realmente somos. Claro que há um grande processo por trás disso tudo: somos muitos, divididos em inúmeros grupos e em variados lugares, portanto precisamos de muitos que façam muitas coisas, entendem a linha de raciocínio? Porém, como não melhoramos muito daquilo que éramos em essência, alguns poucos precisavam ser melhores que outros e eis que entramos no ciclo da desgraça que somos hoje, em termos de sociedade e também de design. Chegamos ao ponto em que aquilo não precisava ser melhor produzido para atender mais dos muitos, não precisava ser mais barato para que mais pessoas pudessem ter. Chegamos ao ponto em que aquilo precisava ser produzido para ser o melhor e para que poucos pudessem ter. Infelizmente, por mais que tenha por aí muitos discursos "para e pelo bem de todos", o que vemos é uma mancha guiada pela imagem de pedestal "desenhada e conquistada" através dos muitos. O design hoje deixou de ser uma ferramenta para evoluirmos e passou a ser uma ferramenta para sermos melhores... melhores que o outro!

Outro ponto sobre o que essa autonomia fez com o design: comodismo e imediatismo! Mais uma das coisas que temos dentro de nossas capacidades e que nem sempre é usada de forma correta é a evolução. Dentro do design sempre buscamos a evolução do objeto criado para que ele possa, da melhor maneira, atender a demanda para qual foi designado, mas, não que isso não seja feito, mas nunca pelos melhores meios!

Hoje estamos vivendo numa sociedade de imagens, de popularidade, de uma falsa ilusão de que estamos em nossos melhores momentos. Diversas conquistas, diversos ganhos, diversas lutas travadas contra o mal de forma vitoriosa. Quanto mais você mostra seu momento, você é o melhor! Você tem a sabedoria e pode dizer o que é bom ou não para seus seguidores. Temos muitos heróis hoje em dia, para todos os gostos e todos eles possuem uma vasta experiência e podem dizer com propriedade o que é ter ou ser aquilo. Temos sido aquela galera que só lê o resumo do livro, é mais rápido, mais fácil e achamos que o livro todo está ali. Os escritores deveriam se preocupar mais em escrever os resumos do que o próprio livro.
Pois é, pode parecer duro, mas é isso que vem acontecendo com o design. Não existe mais uma assimilação ao que é design. O que existe é o que nos é dito, sobre quem ganhou prêmio, sobre quem fez o design, e muito mais para quem mostro e falo sobre o design. O que é mais repulsivo no design na verdade, não é nem sobre design e sim sobre o que se tornou o ser humano! Ao mesmo tempo que se estende a mão para o herói midiático, dá-se aquela bicuda naquele que está te estendendo a mão. Porque na sua cabeça, é mais fácil o herói em questão te puxar pra cima do que você subir puxando o que está abaixo de você. Para não ficarmos num monologo chato, vou eu dar a bicuda sobre o que venho acompanhando pessoalmente no design:
• As pessoas não querem mais pensar sobre o que lhes agrada; • As pessoas não querem mais fazer; • As pessoas não querem aceitar um desafio que não seja conhecido; • É mais fácil culpar o outro do que a si próprio; • As pessoas não querem entender a verdade do outro; • As pessoas não querem entender como se chega do ponto A ao ponto B; • As pessoas só querem mostrar o que tem para o outro que não tem; • A necessidade da imagem é sua necessidade; • É importante estar bem mesmo não estando bem (lifestyle); • As pessoas sempre esperam, ou melhor, só querem cobrar o melhor dos outros; • É só falar “por favor” e “obrigado” que são pessoas melhores.
Vejam que não mencionamos obras, nomes e datas sobre design ou designers para falarmos sobre. Pois design está antes de tudo e todos eles, está no objeto que não é físico mas está presente em nossas vidas constantemente.
O design é democrático até a palavra demo: pois ou você vende sua alma para ele, ou você só o encontra nos livros mágicos!
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